domingo, 23 de julho de 2017

Linhas de ônibus somem na Zona Oeste do Rio e deixam passageiros a pé

Rosana Andrade é usuária da linha 395, que só tem dois horários

Se as cifras pagas por empresários de ônibus do Rio de Janeiro em propina para autoridades do estado, eram milionárias, como revelou nos primeiros dias do mês a Operação Ponto Final, braço da Lava-Jato, faltou investimento no serviço para o qual suas empresas foram contratadas, em consórcios, após licitações municipais. Na Zona Oeste, passageiros reclamam que pelo menos nove linhas desapareceram das ruas, após a falência de viações que atendiam a região. Outras quatro voltaram a rodar, mas só no começo da manhã e no fim da tarde, de segunda a sexta-feira.
Não era para ser assim. O contrato de concessão com a prefeitura inclui, entre as obrigações dos consórcios, garantir regularidade e continuidade do serviço. Assim, caso uma empresa não consiga atender a demanda, outra do consórcio deve substituí-la. As linhas que deixaram os usuários a pé pertenciam às viações Algarve, Rio Rotas, Bangu e Andorinhas, que faliram desde 2015.
Por dois dias, o EXTRA percorreu pontos finais, ouvindo passageiros e rodoviários, e constatou o problema, observável também no serviço de dados abertos da prefeitura, disponibilizados na internet, que se baseia em informações do GPS dos coletivos.
Na Praça do Piriquito, em Realengo, por exemplo, a placa da parada do 367 ainda está lá. Mas, nenhum ônibus passa ou para ali há mais de ano. O lugar agora virou ponto de vans.
— Era nossa única opção para o Centro. Fazia diferença para o trabalhador — lamenta o barbeiro Edilson Werneck.
Edilson Werneck Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
Edilson Werneck Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo Foto: Roberto moreyra
Prejuízo para quem trabalha longe de casa
O supervisor de farmácia Israel de Jesus Lima, de 25 anos, morador de Bangu, precisou da compreensão do chefe para recusar a transferência para a filial da Ilha do Governador e continuar em Ramos. A razão foi o sumiço da linha 933, única que poderia levá-lo ao novo local de trabalho sem precisar de baldeação. Sem ela, teria de pegar três conduções até a Ilha. Ele se surpreendeu quando soube que a linha, assim como outras cinco inexistentes na prática, consta no site do Rio Ônibus como ativa.
— Só se mudaram o itinerário e não avisaram a ninguém, porque aqui em Bangu ela não é mais vista — diz.
A recepcionista Rosana Andrade, de 29 anos, mora em Senador Camará, na Zona Oeste, e depende da 395 para ir ao trabalho em Botafogo, na Zona Sul. Para conseguir pegar o ônibus, que roda em horário limitado, precisa estar no ponto às 5h, quando sai o último dos três que partem para o Centro no começo do dia. Depois, a linha só volta a circular das 17h às 19h. A informação é confirmada por rodoviários.
— Como trabalho das 7h às 19h nunca consigo voltar no 395, pois o último sai do ponto, no Centro, no mesmo horário em que estou deixando o serviço. Então, sou obrigada a pegar três conduções para voltar para casa — reclama.
O comerciário Rafael Monteiro, de 24 anos, morador de Santa Cruz, diz que além de funcionar em horário limitado, o 388 some das ruas nos feriados e fins de semana.
Pressão de moradores
Um abaixo-assinado com mais de mil nomes pede a volta da 750 (Sepetiba-Coelho Neto). O documento foi protocolado na Secretaria Municipal de Transportes (nº 297/2016) em setembro, pelo morador Diego Alves, de 26 anos. Já o técnico de informática Jorge Lucas Araújo, de 21, morador de Cosmos, disse que a pressão na sua vizinhança é pela regularização do 358, hoje restrito aos horários de rush.
A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) informou que, das linhas citadas, três (684, 750 e 754) foram extintas em função de reorganização do sistema de transporte. Quanto às demais , a SMTR constatou a deficiência no serviço e notificará o consórcio para que retorne às atividades, sob pena de multa.
Leia na íntegra a nota do Rio Ônibus:
"O fechamento, nos últimos dois anos, de cinco empresas que atuavam na Zona Oeste (Algarve, Andorinha, Rio Rotas, Top Rio e Bangu) levou o consórcio Santa Cruz a operar algumas linhas em caráter de contingência. A crise econômica, o não reajuste anual da tarifa (que deveria ter ocorrido em janeiro) e a concorrência desleal de kombis e vans ilegais aprofundam as dificuldades financeiras das empresas.
As linhas 684, 750 e 754 foram extintas pela Prefeitura há cerca de um ano. As demais citadas pela reportagem estão com itinerários cobertos por linhas que operam trajetos semelhantes com a facilidade do Bilhete Único, que permite o passageiro pegar dois ônibus pagando apenas uma única tarifa".
Leia na íntegra a nota da Secretaria municipal de Transportes:
"A Secretaria Municipal de Transportes ressalta que o contrato firmado é com os consórcios, e não com as empresas individualmente. Cada consórcio tem obrigação contratual de manter o serviço operando de forma regular e adequada para a população.
A SMTR informa que entre as linhas relacionadas como inoperantes, as linhas 684, 750 e 754 foram extintas em diferentes datas, sendo a linha 684 extinta em 31 de julho de 2015 e as outras duas extintas em 21 de junho de 2016. Estas extinções ocorreram em função de reorganização do sistema de transporte desde que o BUC (Bilhete Único Carioca) foi implementado no ano de 2010, permitindo uma integração no sistema de transporte por ônibus sem o pagamento da segunda tarifa dentro de prazo determinado.
Quanto às demais linhas citadas, a SMTR constatou a deficiência no serviço e notificará o Consórcio responsável para que retorne a operacionalização das mesmas e apresente as razões da inatividade, podendo acarretar em multa ao Consórcio.
A média de passageiros transportados por dia (e por linha) era de 349 (trezentos e quarenta e nove)".

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