quinta-feira, 8 de março de 2018

Passageiros são contra tarifa diferenciada para ônibus com ar-refrigerado no Rio

Passageira recorre a abanador para fugir do calor

A intenção do prefeito Marcelo Crivella de propor uma tarifa diferenciada para os ônibus com e sem ar-refrigerado, numa tentativa de resolver o impasse da refrigeração da frota, não encontra respaldo entre os usuários dos coletivos das linhas municipais do Rio. Para eles, o ideal é que o preço seja único e toda a frota climatizada, o que ainda está longe de corresponder à realidade.
De acordo com dados da Secretaria municipal de Transportes a frota total do município é de 7.335 veículos. Destes 3.023 (41,2%) ainda não são refrigerados. Na distribuição dos veículos sem ar, por consórcio, o Internorte, que cobre os bairros da Zona Norte, possui a maior quantidade: 1.134. O Transcarioca (Zona Norte e parte da Zona Oeste que inclui Recreio, Barra da Tijuca e Jacarepaguá) possui 789; o Intersul (Zona Sul), tem 635 e Santa Cruz (atende a parte da Zona Oeste que engloba Campo Grande, Santa Cruz, Bangu e Realengo, entre outros bairros) tem 465 coletivos não climatizados.
—É um absurdo completo (a diferenciação). O certo é unificar a tarifa e oferecer um único tipo de serviço (só ônibus refrigerados). Temos no Rio grandes problemas de transporte. As empresas que não investem na melhoria de sua frota vão continuar não investindo. A medida vai provocar uma divisão social, com os ônibus da Zona Sul todos com ar-refrigerado e custando mais caro e os da Zona Oeste sem investimentos e sem ar. É uma ideia estapafúrdia. É andar para trás, criando uma estrutura de separação de classes. Isso fará com que quem usa o Bilhete Único, por exemplo, nunca vai poder pegar o ônibus refrigerado, porque as empresas vão querer pagar pela menor tarifa. É mais uma loucura do Crivella — critiou o professor de Geografia, Luiz Gustavo dos Santos Chrispino, de 60 anos, morador na Ilha do Governador.
Luiz Gustavo dos Santos discorda da proposta do prefeito
Luiz Gustavo dos Santos discorda da proposta do prefeito Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
O analista de suporte Carlos Eduardo Lage, de 39 anos, teme com a liberação da cobrança da tarifa mais alta nos ônibus com ar-refrigerado, as empresas retirem das ruas os coletivos não climatizados, obrigando os usuários a pagar a passagem mais cara. Na sua opinião, no final das contas, o passageiro é quem será o principal prejudicado.
— Certamente que vão esconder os ônibus sem ar ou vão colocar todos nas linhas mais rentáveis, deixando os quentões nos itinerários que dão menos lucro. Apesar de preferir pagar mais caro e viajar num ônibus refrigerado, se só houvesse estas opções, acho que o ideal seria toda a frota com ar — opina o morador de Rocha Miranda.
O ambulante Gilberto Lima Romana, de 53 anos, morador em Ramos, discorda da passagem diferenciada para os ônibus climatizados. Ele diz que o usuário já pagou para ter os coletivos refrigerados.
— Não é justa (a diferenciação) porque já pagampos pela refrigeração, quando teve o aumento de R$ 3,20 para R$ 3,60. As empresas vão colocar os ônibus com ar-refrigerado nas ruas e esconder os sem ar, fazendo mofar no ponto o passageiro que não tem como pagar a passagem mais cara. Ainda vai criar confusão para quem usa o Bilhete Único.
A vendedora Rosane Rodrigues, de 40 anos, moradora em Irajá, diz que o passageiro vai ter que escolher que tipo de ônibus usar de acordo com o tempo e sua disponibilidade financeira.
— Num dia quente, por exemplo, vai fazer das tripas coração para pegar um ônibus com ar. Já quem depende do Bilhete único vai ter que esperar no ponto. Não vejo ninguém ganhando com isso a não ser o empresário — opina.
A dona de casa Josilene Oliveira de Andrade, de 50 anos, diz que se tiver de optar, vai escolher pelo ônibus sem ar, mas acha que o ideral é tarifa igual e toda a frota refrigerada. É o mesmo que defende o técnico de refrigeração Raimundo Willen da Silva Baraúna, de 23 anos, embora diga quie se tivesse de escolher optaria pelo ônibus refrigerado, mesmo pagado mais, para fugir do calor. O EXTRA fez o teste num ônibus sem ar da linha 394 (Vila Kennedy-Tiradentes) e o termômetro marcou 34 graus dentro do coletivo sem ar.
—Nesse calor, o ideal seria que todos os ônibus tivessem ar. A gente chega no trabalho suado. Tem gente que até passa mal nesse calor e com carro cheio. O ideal é que todos fossem com ar e preço único — diz o mortador de Sepetiba que diariamente pega três conduções até o Centro, onde trabalha.
Teste dentro do 394 apontou temperatura de 34 graus
Teste dentro do 394 apontou temperatura de 34 graus Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Indagada sobre os problemas que a diferenciação tarifária poderia causar aos usuários de Bilhete Único e sobre como faria para impedir que as empresas reduzissem a frota de carros sem ar, a Secretaria municipal de Transportes respondeu apenas que “a prefeitura está empenhada em resolver a questão tarifária do Sistema de Transporte Público por Ônibus da cidade do Rio de Janeiro, com o objetivo de oferecer mais conforto e qualidade à população carioca. E estuda a melhor forma de cobrar tarifas diferenciadas para veículos com ar e veículos sem ar condicionado.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário