segunda-feira, 7 de maio de 2018

Linha que deveria ter 27 ônibus circula com apenas um na Zona Oeste do Rio

Leandro Silva já recorreu ao MP duas vezes para pedir a regularização da 366 (antiga S-14) e 398

Na sexta-feira passada, a estudante de Direito Dominique da Costa Souza, de 19 anos, chegou no ponto final do 366, antigo S-14 (Campo Grande-Tiradentes), às 15h30, mas só conseguiu embarcar no ônibus que a levaria para a faculdade, na Lapa, no Centro do Rio, às 17h20. Para não chegar atrasada no trabalho, onde pega às 14h20, a atendente de telemarketing Roseane Cristina Vieira, de 22 anos, usuária do 398, que faz o mesmo trajeto, sai de casa todos os dias com pelo menos três horas de antecedência. Esse é o tempo médio de espera nas paradas, desde que empresa retirou a maioria dos veículos das ruas, segundo as queixas dos usuários.
Despachantes confirmaram que nesta segunda-feira estava circulando apenas um ônibus da 366 e três da 398. Uma consulta pela internet ao sistema de dados abertos da prefeitura, que utiliza informações do GPS dos veículos, comprova o que disseram os rodoviários.Uma planilha atualizada em fevereiro e disponibiliza no site da prefeitura aponta que a frota determinada para a primeira linha é de 27 veículos e da segunda, de 16 carros. Mas não é isso que se encontra nas ruas.
— A situação é pior à noite e nos fins semana, quando os ônibus somem por completo — reclama o operador de caixa Leandro Silva, de 34 anos, morador de Campo Grande.
O passageiro contou que o problema vem de longe, mas se agravou a partir do último dia 20. Cansado de esperar por uma solução, partindo da empresa ou da prefeitura, o rapaz entrou com duas ações na Justiça, por meio do Ministério Público. Em ambas ele pede a readequação da frota, a regularização dos horários e que as linhas sejam assumidas por outra empresa em condições de operá-la de maneira mais satisfatória para os usuários.
— É uma situação que me prejudica muito. Não dá nem tempo para estudar em casa, por que passo a maior parte do tempo na rua — se queixa a estudante Dominique que sai de casa por volta das 15h para não chegar atrasada na facukdade, como aconteceu ma sexta-feira.
Dominique da Costa amargou espera de quase três horas na sexta-feira
Dominique da Costa amargou espera de quase três horas na sexta-feira Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
A jovem que mora em Santa Cruz depende de duas conduções: uma até Campo Grande e outra de lá para o Centro. O trem seria uma boa opção, mas como ela é usuária do Bilhete Único Carioca Universitário só pode fazer as quatro viagens de ida e volta em ônibus municipal. A SuperVia suspendeu o benefício da integração com os trens em junho do ano passado, alegando concedia o desconto por “mera liberalidade”, já que não recebia subsídio para isso nem era obrigada pela Lei Municipal 5.211, que criou o BUC.
No Centro, o técnico de enfermagem Walmir Souza, de 58 anos, que trabalha no Hospital Souza Aguiar, já considerava a hipótese de pegar outra condução, após cerca de 40 minutos de espera pelo ônibus que o levaria de volta para casa, em Campo Grande. O vendedor Pedro Elói Gomes Tavares, de 69 anos, morador do Centro que ia à Zona Oeste visitar clientes pensava fazer o mesmo. No período em que o EXTRA esteve no local passaram pelo menos dois frescões, da mesma empresa, mas cuja tarifa é de R$ 14.
No ponto final de Campo Grande, onde o EXTRA permaneceu por cerca de uma hora, a situação não foi muito diferente. Nesse período chegou apenas um coletivo da 398, por volta das 11h40. Dessa vez Roseana deu sorte. Ela havia acabado de chegar, mas nem sempre é assim. Já na parada do 366, nem sinal do ônibus. A fila que começou com três pessoas — entre elas a estudante Dominique — não parava de crescer. Os primeiros a chegar, amargavam uma espera de quase uma hora.
— A linha já era problemática na época em que era de outra empresa e ainda se chamava S-14. Não era ruim, mas também não era tão boa. Mas com o tempo, a situação mudou. Passou a circular com poucos carros, intervalos longos e ônibus em mau estado de conservação. Depois dessa polêmica do não reajuste das passagens ficou pior. Os veículos começaram a sumir. Hoje, quem dependia da linha vai buscar outras opções, como o trem — exemplifica Leandro, que trabalha no Méier, e disse já ter ficado de 21h20 até quase uma hora da manhã do dia seguinte esperando no ponto pelo 366.
Ainda segundo Leandro, as linhas são importantes porque são as únicas de ligação do bairro com o Centro que passam pela Estrada do Mendanha (a 366) e Estrada da Posse (398). Estas linhas são também a opção mais rápida para chegar ao Centro, porque a maior parte do trajeto é feito pela Avenida Brasil, beneficiando ainda moradores de bairros que margeiam a via, como Vila Kennedy, Bangu e Realengo.
A Secretaria Municipal de Transportes informou que o consórcio Santa Cruz, responsável pelas 366 e 398 já foi autuado 15 vezes, de janeiro até agora, por circular com frota estas linhas abaixo do determinado. Cada multa aplicada desta natureza é de 520 Ufir-Rj (cerca de R$ 1.700). Procurado, o Consórcio Santa Cruz respondeu apenas que as linhas 366 e 398 estão com operação comprometida e que "as empresas de ônibus enfrentam a maior crise já vista no setor."


Pontos das duas linhas vazios no Centro, onde placa na parada do 366 ainda é da antiga S-14


Fonte: https://extra.globo.com/noticias/rio/linha-que-deveria-ter-27-onibus-circula-com-apenas-um-na-zona-oeste-do-rio-22660837.html

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